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rua do imaginário

Porque existe algo em vez do nada?

Porque existe algo em vez do nada?

rua do imaginário

27
Jan16

Na laranja madura canta o sol

Cada coisa

Cada coisa tem o seu fulgor,

a sua música.

Na laranja madura canta o sol,

na neve o melro azul.

Não só as coisas,

os próprios animais

brilham de uma luz acariciada;

quando o inverno

se aproxima dos seus olhos

a transparência das estrelas

torna-se fonte da sua respiração.

Só isso faz

com que durem ainda.

Assim o coração.


Eugénio de Andrade in "Sal da língua"

26
Jan16

Tempos modernos

Na gestão de empresas fria e contabilística dos tempos que vivemos as pessoas são consideradas como recursos e tratadas de forma numérica e unidimensional numa qualquer folha de cálculo. Uma empresa não é feita por “colaboradores”, termo que é hoje usual utilizar, mas por trabalhadores, pessoas que dão o que têm de mais precioso, que é o seu tempo, pelo bem comum de uma comunidade de trabalhadores, clientes, fornecedores e, em última análise, pela sociedade em geral. O objetivo último não é o bem da empresa, que não é mais que uma ficção, mas o bem das pessoas reais, pessoas com personalidade, família, ideias e fraquezas. A empresa é o meio, não o fim.

 

A ética terá de ser sempre um imperativo, qualquer que seja a teoria moderna de gestão que se utilize. O que não acontece. E quem é dono de uma empresa não pode dizer que, por ser sua posse, pode fazer o que bem entende: uma empresa emerge da sociedade, que justifica a existência da empresa, e tem obrigações para com essa sociedade. O dono não pode ser parasita da sua propriedade, a empresa tem obrigações para com a sociedade.

 

Certamente que o génio de Charlie Chaplin saberia encontrar a forma certeira de ridiculizar estes tempos modernos.

21
Jan16

Desigualdade da riqueza e as regras do jogo

A desigualdade na distribuição da riqueza mundial é algo mais que umas questão de justiça perante o sofrimento de parte significativa da humanidade: afeta a própria raiz do sistema económico liberal e globalizado em que vivemos.

 

O sistema liberal baseia-se na idolatrada "mão invísivel" de Adam Smith, mecanismo que permitiria de forma intrínseca e sem regulação que o sistema fosse responsável pelo seu equilibrio. Mas a concentração da riqueza numa percentagem ínfima da população mundial desiquilibra esses mecanismos ao ferir a igualdade de oportunidades e a justa concorrência entre todos os envolvidos neste sistema (que voluntária ou involutariamente somos todos nós), que são os fundamentos do liberalismo. Estamos agora num ciclo vicioso em que a riqueza dos super-ricos gera mais riqueza o que, por sua vez, aumenta a desiqualdade. É um cenário de "monopólio da riqueza" o que implica que liberalismo está no caminho da auto-destruição, com risco de destruição do próprio conceito de democracia.

20
Jan16

Dos ricos e dos pobres

As análise da distribuição da riqueza indica que no, início de 2016, bastam as 62 pessoas mais ricas do planeta para acumular a mesma riqueza que a metade mais pobre da Humanidade. Estas 62 pessoas acumulam a mesma riqueza que mais de 3,5 mil milhões de pessoas. Esta desigualdade tem vindo a agravar-se, e não seria grave caso se verificasse em simultâneo uma melhoria na qualidade de vida dos mais pobres, mas é o inverso de acontece. Os ricos estão mais ricos à custa de os pobres estarem mais pobres.

 

Creio que este número, per si, seria suficiente para se perceber que algo de extremamente grave está a acontecer na economia globalizada. Esta desigualdade é um sinal que deveria provocar em todos nós, nos ricos e nos pobres, uma vontade de mudança. Mas a verdade é que quem efetivamente decide são os ricos, e apesar de já existirem alguns sinais da sua preocupação com as consequências explosivas inevitáveis desta situação, parece que a vontade de mudar algo é reduzida ou não tem produzido qualquer efeito.

 

A Europa está a ser invadida por milhões de pessoas que fogem da pobreza extrema e da guerra. Perante esta situação o velho continente surge desorientado, sem unidade e liderança que possa dar uma resposta efetiva a esta gente desesperada. Mas os ricos, os extremamente ricos que dominam as decisões, serão os últimos a sofrer. E portanto todos continuamos a seguir em direcção ao abismo perante o sofrimento evitável de milhões de seres humanos.

19
Jan16

enquanto um de nós for vivo

na hora de pôr a mesa éramos cinco: o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu. depois, a minha irmã mais velha casou-se. depois, a minha irmã mais nova casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje, na hora de pôr a mesa, somos cinco, menos a minha irmã mais velha que está na casa dela, menos a minha irmã mais nova que está na casa dela, menos o meu pai, menos a minha mãe viúva. cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho, mas irão estar sempre aqui. na hora de pôr a mesa seremos sempre cinco. enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco.

 

José Luís Peixoto, em “A criança em ruínas”

14
Jan16

Avesso

Avesso

 

O mundo agreste que me rodeia

A cidade, as pessoas, a vida

Obrigam os sentidos a fugir 

Para as montanhas e planicies

 

Da alma

 

Sinto falta que alguém me deseje

Na fúria da paixão

De chorar numa raiva incontida

Num desmoronar ruidoso

 

Dos sentidos

 

Estou virado para dentro

A alma por fora do corpo

Sinto-me virado do avesso

 

 

nimbus, janeiro 2003

13
Jan16

Século XXI

Estamos no século XXI. O Homem conseguiu avanços no campo da ciência e tecnologia nunca antes sonhados. As pessoas viajam com rapidez e facilidade para qualquer parte do Mundo. A medicina consegue curar facilmente doenças que durante séculos mataram milhões de pessoas. A ciência descobriu a origem do Universo, o nascimento da vida e a evolução das espécies. Enviam-se veículos para o espaço profundo para conhecer outros planetas. Constroiem-se estações espaciais na órbita da Terra. Procura-se vida inteligente noutros planetas.

 

Os habitats naturais são sistematicamente destruídos. Milhares de espécies de seres vivos estão em vias de extinção. Pessoas morrem de fome. Há falta de água potável. Doenças facilmente curáveis matam milhões de pessoas, sobretudo crianças. Homens morrem de frio em grandes cidades. A maioria das crianças não tem acesso à educação. Mulheres são tratadas como escravas, sem qualquer tipo de direitos. Homens bomba explodem raiva contra outros seres humanos. Cidades são destruídas e saqueadas. Morrem milhares de pessoas em combates pela posse de um pedaço de deserto. Estamos no século XXI.

 

Abril 2003

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