A dúvida primordial, “Porque é que podendo não existir nada, existe algo”, foi formulada pela primeira vez pelo filósofo alemão Leibniz no Sec. XVII. Não é portanto uma inquietação recente o espanto que causa a existência de tudo o que existe e a complexidade da organização da matéria que permitiu, inclusivamente, a existência de seres conscientes que possam estar a refletir precisamente sobre isto: porque é que existe algo. Não seria muito mais simples que não existisse nada? Ou que, existindo não tivesse o grau de organização que tem? Seria certamente mais simples e provável que, mesmo existindo matéria, esta não passasse de uma sopa desorganizada e amorfa.
Ao longo do tempo tem havido várias respostas para esta inquietação, desde da explicação pela existência de Deus, até à explicação científica baseada nas leis do Universo que possibilitam a existência do mundo tal como o conhecemos, e que, por essas leis, não podia ser diferente. No entanto, será sempre possível elaborar a meta-questão que se segue: sim, as leis do Universo são estas, mas não podiam ser diferentes?
A dúvida existe porque os nossos cérebros foram capazes de a formular, mas há filósofos que defendem que não se trata de uma questão que faça sentido. Falar do nada absoluto, ou de um universo com leis diferentes, é algo que está em absoluto para além do nosso entendimento, é algo que não pertence ao nosso mundo, e que portanto não faz sentido. Não faz sentido perguntar o que havia “antes” do big bang, pois o próprio conceito de Tempo não existia então. Como refere o filósofo Henri Bergson é uma pseudo ideia, um absurdo, que não tem mais significado do que tentar imaginar um círculo quadrado. Parece ser uma posição razoável, porque procurar o que está fora do nosso alcance está condenado a ser uma busca interminável. Aceitemos então o nosso universo, sem questões.