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rua do imaginário

Porque existe algo em vez do nada?

Porque existe algo em vez do nada?

rua do imaginário

19
Set19

Renascimento

Algumas pessoas têm na vida a rara oportunidade de renascer. O renascimento é muito mais que um novo nascimento. Após o nascimento vivemos como se fossemos imortais, o nosso tempo tem um início concreto e um fim em abstrato. No renascimento já recebemos a prova da nossa mortalidade, o nosso tempo tem agora um início abstrato e um fim concreto. Reconstruímos o “eu”, essa obra sempre inacabada, sobre o alicerce de uma sabedoria extraída de memórias de uma vida passada, sabendo agora muito bem que o tempo não está a nosso favor. Quem tem esta oportunidade não pode deixar de lhe atribuir o maior valor, será talvez a última possibilidade para conhecermos o nosso melhor eu.

25
Jan19

O construtor de memórias

Perante esta ausência tão inevitavelmente definitiva a tarefa mais urgente é construir memórias. A memória não é algo cristalizado que reflete uma realidade passada e imutável, é antes uma construção pessoal, que nunca está terminada, manufaturada dentro de nós com doses variáveis de realidade, invenções e esquecimentos.  A missão fundamental agora é saber que memórias quero construir para nós e, num trabalho contínuo de artificie procurar memórias e escolher, rejeitar, aceitar ou moldar. O meu trabalho é o de o jardineiro a construir um jardim que é só nosso. Mas entre as flores do jardim da memória há plantas que queremos eliminar seletivamente, rejeitar memórias daninhas, que se não forem mondadas de imediato ameaçam crescer desmesuradamente e abafar as muitas memórias boas, bonitas, carinhosas e quentes que devo proteger a todo o custo. E este é o maior desafio do construtor de memórias, pois estas memórias daninhas exigem uma atenção permanente pois, quando menos se espera, surgem assim de repente, do nada, no meio de todas as bonitas, coloridas e cheirosas flores do nosso jardim, a causar uma dor negra como a noite que a nossa história de amor não merece.

03
Abr18

Dias de pássaro

Para todos nós existe um local onde nos sentimos mais iguais ao que somos, onde não somos estrangeiros de nós e a geografia se encaixa com a alma. No regresso a esse local o futuro é suspenso: o tempo enrola-se sobre si mesmo, torna-se circular como o tempo dos dias dos pássaros.  E quando somos obrigados a abandonar esse local sofremos com a violência do tempo que regressa à sua linearidade, retomando a queda inevitável para o futuro.

05
Mar18

Erosão do medo

Os medos, expostos ao tempo, vão sofrendo um fenómeno de erosão semelhante às rochas na intempérie. A rocha fica exposta, perde volume, e é polida pelo trabalho dos ventos e das chuvas. Aos medos, que habitam dentro de nós, protegidos dos elementos, para a sua erosão basta somente a passagem do tempo. Tornam-se mais suaves, menos imediatos e concretos, ganham subtileza. E também, lentamente, de forma quase inadvertida, tal como uma erosão, vão transferindo o seu sujeito. A erosão dos medos transforma-os em algo de menos íntimo e ficam expostos ao outro:  os meus medos já não são sobre o que me pode acontecer pessoalmente mas sobre o que pode acontecer aos outros, muito especialmente, aos meus filhos.

19
Fev18

Plenitude

Na rotina urbana que me é exigida (ou que eu me imponho, porque afinal é preciso de pensar que sou livre) sinto falta da Natureza. Sentir o vento gelado de um dia de Inverno, analisar as cores de um pô-de-sol, absorver o calor íntimo do Sol num dia frio, observar se e o vento sopra de Norte ou de Leste, respirar o ar claro e leve das montanhas, mexer na terra e na lama. Somos animais, os séculos de civilização apenas serviram para nos cobrir com uma fina camada de verniz. Viver na cidade protegidos por betão, rodeados de multidões (e no entanto solitários) a respirar ares mortíferos e a lutar constantemente contra o tempo, é viver longe de nós próprios. A cidade é um paradoxo, onde uma maior concentração de humanos significa uma redução da humanidade. Para mim, tenho certo de que a plenitude, se algum dia a encontrar, não será na cidade.

26
Jan18

Pequenos Prazeres

O melhor da vida são os pequenos prazeres. Momentos, uns breves segundos, de bem-estar, de sentimento, de paz com o Tempo. Ver o sorriso incondicional de uma criança, sentir o calor do sol numa bonita manhã de Inverno, uma partilha entre amigos,  uma curva numa viagem de mota, uma esperança no futuro, um beijo dos filhos. São estes momentos que fazem a vida valer a pena. O sentido da vida não é nada mais do que estes pequenos prazeres.

17
Jan18

Pai

 

Faz hoje 5 anos que o meu Pai nos deixou. A vida que existiu continuará viva na memória de todos os que o conheceram. Fica aqui um texto que escrevi nesse dia, contra o esquecimento.

 

 

Adeus Pai. Sou parte de ti, e por isso nunca me deixarás. Não irás mais estar fisicamente presente, mas o teu espírito, os teus ensinamentos e o teu ser continuarão sempre connosco. Ensinaste-me muito ao longo da vida, chegou agora o momento de uma última e dolorosa lição: viver a dor da morte de quem amamos.

 

Disseste-me que tudo tem um fim. Mas permite-me corrigir-te: não é será um fim, é apenas um momento em que deixaremos de ouvir a tua voz (espero nunca a esquecer), do olhar dos teus olhos, às vezes verdes, outras vezes cinzentos (que estou certo nunca esquecerei), de sentir o teu calor, de ver os teus gestos. Tudo isto vai continuar a existir naqueles que ficam com a enorme responsabilidade de honrar a tua memória. Enquanto existires em nós, a morte não vencerá.

 

O nosso consolo é saber que partes em paz, com o espirito do dever cumprido. Que viveste uma vida difícil, mas de sucesso. Que no fim da vida pudeste olhar em teu redor e que certamente sentiste felicidade. Que conseguiste realizar os teus sonhos, contra muitas adversidades. Que deixas uma família que te respeita e honra. Amigos que nunca te irão esquecer. Que te amam. Que enquanto os que te conheceram estiverem vivos existirás sempre nos nossos corações e não deixaremos de brindar à tua memória. Que descanses em paz, e que nós, que recebemos o teu legado, sejamos agora capazes de honrar o teu exemplo.

 

Agradeço-te tudo. O que de bom e de mau vivemos juntos. Obrigado. Obrigado por seres o que és. Obrigado pelo que aprendi contigo. Obrigado pela tua honestidade. Obrigado pelos teus conselhos. Obrigado pelos princípios de vida. Obrigado pelos teus olhos. Obrigado pela tua vida, que nos enche de orgulho.

 

Obrigado por tudo. Descansa em Paz.

 

17 de Janeiro de 2013

12
Jan18

Um gesto na planície

Uma esperança sem alento

Uma raiva sem destino

Uma longa despedida

Uma saudade antecipada

Uma escuridão no futuro

 

A solidão no absurdo

De um gesto na planície

Numa viagem imaginada

 

09
Jan18

Final Feliz

O final feliz de qualquer história depende do momento onde decidimos terminar de a contar. Porque todas as histórias, incluindo a nossa, terminam mal. A grande sabedoria do final feliz está em saber onde parar. A dúvida que me tem assombrado estes dias é a seguinte: será que o meu final feliz já aconteceu?

27
Dez17

Memórias

Neste Natal, uma memória há muito desaparecida surgiu inesperadamente e convocou-me para vidas anteriores e para caminhos antigos que divergiram algures no tempo para nunca mais se cruzarem. Como a nossa memória nos esconde tanto. O que somos é genética e a soma do que nos aconteceu, mas o que nos aconteceu é tão volátil e subtil. O passado só existe em nós, enquanto guardamos dele algum vestigio. “Quando eu morrer, nada do nosso amor terá alguma vez existido” escreveu Jean Dupuy, mas creio que se enganou, porque o amor deixa de alguma vez ter existido no momento em que um dos amantes o esquece.

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