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Desde da morte do meu pai que nos dias 1 de novembro, o dia de todos os santos que por tradição utilitária acumulou com o dia dos fiéis defuntos, que é assinalado no dia 2 de novembro, me desloco ao cemitério da aldeia e assisto à cerimónia religiosa junto à campa de meu pai. Não o faço por religião, faço como um ritual pessoal para honrar a memória de meu pai, e de outros mortos da família, e como sinal de amizade para com os vivos.
O padre era muito novo, talvez ainda nem sequer fosse padre, hesitante na oratória, pouco convincente na palavras. É timbre de qualquer padre saber falar com segurança e convicção independentemente do disparate que esteja a dizer. Neste caso, no jovem aprendiz essa qualidade, se é que se trata de uma qualidade, estava ausente. Talvez seja sinal da crise de vocação para o sacerdócio de que oiço falar. Mas algo ele titubeou que fez o seu sentido: a morte é certa, e esta peregrinação anual aos cemitérios deveria servir tambémpara nos recordar que devemos viver a vida na sua plenitude. Claro que a partir deste ponto o conceito de viver a vida na sua plenitude difere, para o padre era sofrer em vida para ganhar a vida eterna depois de morto, para mim é usufruir o melhor possível deste instante extremamente improvável que é estarmos vivos e conscientes disso, antes que o nada regresse a nós.