Tem-se assistido à tendência crescente dos consumidores mais preocupados com o impacto no planeta e na saúde humana da industrialização da produção agrícola a consumir produtos orgânicos e biológicos. Surpreendentemente algumas vezes as boas intenções não correspondem aos resultados, e esta talvez seja uma dessas situações. Matt Ridley, autor do livro “O otimista racional”, defende que esta tendência é tremendamente prejudicial para o planeta e que se viesse a ser este um hábito de consumo generalizado poderia colocar em risco a sobrevivência do planeta. A lógica da argumentação é simples e, para um não especialista no assunto, aparentemente sólida: a produção orgânica ou biológica abdica da utilização de tecnologias hoje ao nosso dispor, o que implica uma produção de menor quantidade por hectare e a necessidade de utilização de terrenos adicionais para suporte a esta produção, nomeadamente para produzir os fertilizantes naturais necessários. O aumento da área necessária para produzir a mesma quantidade de alimentos é dramática e teria um impacto catastrófico no nosso planeta, obrigando os agricultores a conquistar terrenos a zonas hoje selvagens, sejam florestas, pântanos ou desertos. As consequências ambientais seriam trágicas.
De acordo com este autor a solução para a produção de alimentos não está assim num regresso nostálgico à produção orgânica do passado, inviável para alimentar os sete mil milhões de seres deste planeta, mas sim uma aposta ainda maior no aumento da produtividade e da qualidade dos alimentos produzidos. O aumento da produtividade e da qualidade que está ao nosso alcance com a modificação genética das espécies, onde ainda estamos a dar os primeiros passos, e que permite produzir mais com menos terreno e menos pesticidas, logo, com menor impacto ambiental.
Este é o terrível dilema do ecologista, que no fundo é de todos: a solução para o nosso planeta talvez não esteja num regresso à natureza. O aumento da população não nos deixa outra alternativa do que investir na tecnologia para conseguirmos alimentar os humanos sem destruir, ainda mais, o planeta. O regresso a métodos de produção naturais é inviável para esta densidade populacional e a melhor forma de proteger o planeta é investir em mais inovação e adotar práticas que, aparentemente, parecem perigosas e contrárias à ecologia. Um exemplo é a modificação genética de espécies, que é rejeitada pela grande maioria das organizações ambientalistas, sendo inclusivamente proibida em muitos países, mas tem potencial para garantir formas de produzir mais alimentos com um impacto muito mais reduzido sobre o nosso planeta. A contradição é que ao lutar contra estas inovações, as organizações ecologistas talvez esteja a prejudicar o nosso planeta.
Livro: “O otimista racional”, Matt Ridley