No nosso dia-a-dia, raramente duvidamos que somos capazes de tomar determinadas decisões, e de que somos livres para o fazer. Se ficamos a dormir mais 5 minutos depois do despertador tocar, o que comemos ao pequeno-almoço, a roupa que decidimos vestir, o caminho que escolhemos para ir trabalhar, etc. Em cada dia tomamos centenas de decisões e nunca colocamos em dúvida que foram decisões que só dependeram da nossa vontade e que, se assim quiséssemos, podíamos ter decidido de forma diferente. O nosso sentimento de possuirmos livre arbítrio é extremamente forte e raramente é questionado.
Mas em tudo que nos rodeia não conhecemos nada que tenha este comportamento. O que acontece obedece a um determinado algoritmo, a um conjunto de regras pré-definidas (quer sejam do nosso conhecimento ou não) e sempre que as condições iniciais são as mesmas o resultado esperado é o mesmo. Se de manhã, quando em levanto ainda ensonado, embato na porta fechada da casa de banho, a porta vai magoar-me. A porta fechada não decide uns dias barrar o caminho e outros dias ser benevolente e deixar-me passar através dela. Se de manhã ligo o motor do meu carro, estando todas as condições reunidas para o motor funcionar, o motor do carro começa a funcionar. O motor não decide começar a funcionar uns dias e noutros não o fazer.
Sendo assim, a questão é: porque será o funcionamento do nosso cérebro distinto? Porque aceitamos com tanta naturalidade que decidimos? O funcionamento do nosso cérebro depende de uma miríade de fatores, muitos dos quais não conhecemos, mas estando o nosso cérebro em determinada configuração, será de facto possível decidirmos algo? Ou, nessas condições, o seu comportamento seria inevitavelmente sempre o mesmo? O nosso cérebro não passa de uma máquina física e química extremamente complexa e, tanto quando sabemos, uma máquina não tem lugar para a aleatoriedade. Aparentemente seria possível, para algum ser que tivesse na posse de todos os dados e conhecesse todas as leis físicas, prever cada uma das nossas decisões. O que decidimos é inevitável.