A vida não pode ser muito melhor que isto
Águeda, 2016
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Águeda, 2016
Ele procurava razões e sentidos e explicações para as coisas. Ora não se pode procurar razões e sentidos e explicações para as coisas. Se se encontra, excelente, procurar não vale. É como procurar uma moeda no chão. Conheço pelo menos cinco pessoas que encontraram dinheiro no chão e nenhuma delas estava à procura, mas todas deram conta de que o tinham encontrado.
Clara Umbra
Recentemente foi utilizado pela polícia nos EUA um pequeno robot com explosivos para matar um atirador furtivo que se encontrava barricado. Esta situação configura uma violação das famosas três leis da robótica definidas por Issac Assimov.
A utilização de drones, robots e aviões não tripulados em missões de guerra não é recente, mas nos últimos anos tem-se intensificado. Surgem também notícias do desenvolvimento de robots de combate, algo que possivelmente até já poderá estar a ser utilizado em determinadas situações. A guerra é cada vez mais um assunto de máquinas.
O desenvolvimento da robótica, máquinas autónomas que podem auxiliar o Homem em variadíssimas tarefas, é a uma das áreas da tecnologia mais emocionantes e promissoras, mas que sem dúvida levantam questões éticas profundas. É triste, e espelho a Humanidade, que a utilização primordial destas máquinas esteja a ser a guerra, os homens constroem máquinas para matarem homens. Os atuais robots ainda são insipientes, mas o seu potencial de evolução é ilimitado. Quais as consequências éticas de se permitirem a estas máquinas que matem humanos? Quem será responsável por essas mortes, quando um dia, e esse dia vai chegar, um robot matar um inocente? O fabricante? O dono do robot? O próprio robot, que teria personalidade jurídica?
Nunca é demais recordar as três leis da robótica definidas em 1942 por Issac Assimov, que parecem fazer cada dia mais sentido:
Há um elo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento.
Milan Kundera
Meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade
Não gosto da palavra pátria, não sou de patriotismos, as pátrias não servem para unir, mas para dividir. A Humanidade é simultaneamente una e diversa, e não necessita de linhas imaginárias, nem de leis, nem vistos e passaportes que a dividam. A beleza da Humanidade está na sua diversidade mas todos nós, quer queiramos ou não, pertencemos a uma determinada tribo. Temos uma cultura, uma língua, referências e memórias que partilhamos, há algo que nos une. A nossa tribo não é melhor mas é diferente, e há algo que nos une a todos, os que pertencemos a esta tribo. E os portugueses sempre foram um povo de largos horizontes e respeito pela diferença que nunca envergonhou demasiadamente a Humanidade. E, de vez em quando, sabe bem recordar que pertenço a esta tribo. E dizer “nós”.
Moçambique, 2009
Depois da viagem é necessário cristalizar uma memória. De tudo o que vivemos temos que fazer uma terrível escolha: o que recordar e o que esquecer. É certo que o esquecido nunca o é verdadeiramente, muitos anos depois, inopinadamente, podemos conjurar memórias há muito julgadas perdidas. Mas a escolha do que queremos recordar pode ser feita por nós, em vez de deixar essa tarefa entregue aos desconhecidos meandros do nosso inconsciente. Construir uma memória, eleger o que recordar, garante-nos o privilégio de escolhermos criteriosamente o que não queremos esquecer.
Depois da ideia, mais tarde, algumas vezes muito mais tarde, eventualmente surge a oportunidade da viagem, de concretizar um sentimento que habita dentro de nós. Planear uma viagem é uma arte, é gerir um equilíbrio entre a anarquia da improvisação e a ditadura do planeamento. O resultado da viagem é um compromisso meticuloso entre informação, planeamento e improvisação.
Conhecer o destino para saber interpretar o que vamos ver e para melhor compreender o que nos rodeia é fundamental. Também para saber o que conhecer, a rota da viagem, o que é importante ver, implica um esforço de conhecimento prévio: leituras, conversas, investigação. Depois entra-se numa fase mais fina, a definição de etapas, de itinerários, a elaboração de uma cronologia planeada. Mas é fundamental saber quão fina queremos esta análise, é preciso saber quando devemos parar o detalhe, para não tornar a viagem num enfadonho e previsível cumprimento de um roteiro pré-definido.
Planear a viagem faz já é a própria viagem. Parte do prazer da viagem está no seu planeamento. E as ferramentas que a tecnologia agora colocam à nossa disposição, que nos permitem estando em frente a um computador ter literalmente acesso a todo o mundo, tornam o planeamento da viagem numa verdadeira etapa da viagem.
E se a viagem frequentemente desilude, o seu planeamento nunca o faz. Não há calor ou frio, mosquitos, turistas, estados de espírito ou contratempos. Planear uma viagem é construir, e também uma forma de viver, a viagem perfeita.
A viagem começa a nascer dentro de nós, ainda antes de termos consciência da sua existência. É algo de difuso, um sentimento ténue que se começa a formar: um destino nasce dentro de nós. De onde surge esse destino? De um livro, uma referência num artigo, uma conversa com amigos, uma fotografia, uma memória de uma viagem anterior, um prato que se saboreia, um sonho, um sentimento, um instinto. As origens da escolha do destino são diversas e insondáveis. Umas vezes lentamente outras de rompante, viagem constrói-se dentro de nós, ganha forma e cresce, como a planta que nasce da semente. Até que, um dia, tal como a planta floresce, a viagem ganha urgência. Nasceu a viagem dentro de nós.
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