Negar a impermanência
A catedral de Cáceres tem o chão repleto de pedras tumulares com brasões de família gravados. A catedral é um autêntico compêndio de heráldica, tal a quantidade de brasões que lá se podem observar. Com o passar dos séculos muitos desses brasões foram ficando esbatidos e quem lá foi sepultado há muito que está esquecido. Recentemente, ao passear por Cáceres, observava aqueles brasões gravados nas pedras do chão e nos belos túmulos adornados nas alas da igreja e não pude deixar de refletir que quem lá foi sepultado teve a ilusão de escapar ao esquecimento. No entanto, o homem e a sua memória desvaneceram-se irremediavelmente no Tempo.
Negar a impermanência é uma ilusão. Aceitar que tudo é impermanente é um dos princípios da filosofia budista. A importância desta aceitação pode aparentemente parecer algo de íntimo, de filosófico, sem impacto na nossa forma de viver e na personalidade. Mas não. Interiorizar a impermanência e a vacuidade de tudo o que existe é uma verdadeira revolução copernicana para o nosso imaginário. Só quem aceita a impermanência e a vacuidade pode fugir ao perverso domínio do ego sobre a mente e, desta forma, ter uma mundovisão tranquila de quem sabe atribuir a verdadeira importância ao que nos acontece.