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rua do imaginário

Porque existe algo em vez do nada?

Porque existe algo em vez do nada?

rua do imaginário

26
Abr17

Felicidade Interna Bruta

Por a riqueza das nações, o Produto Interno Bruto, não ser um indicador útil para atestar o verdadeiro nível de bem-estar e qualidade de vida das suas populações existiram várias tentativas de desenhar indicadores que possam refletir de forma fiável e objetiva o que verdadeiramente importa: a felicidade dos indivíduos. As Nações Unidas aplicam um conceito mais abrangente, mas ainda assim redutor, que é o Índice de Desenvolvimento Humano, que consiste na média geométrica de três dimensões: a longevidade, o tempo de ensino, e o rendimento.

 

O termo Felicidade Interna Bruta foi criado pelo rei do Butão nos idos de 1972, e pretendia ser uma resposta às críticas dos economistas sobre o seu país, centrados apenas em números e no crescimento económico, para quem queria construir uma economia adaptada à cultura do país, baseada em valores espirituais budistas.

 

A Felicidade Interna Bruta seria um indicador para valores como a educação, a inclusão social, valores culturais, respeito pelo meio-ambiente e crescimento sustentável, saúde, tempo livre, lazer e desporto, igualdade entre géneros e liberdade.

 

No espirito deste tempo, em que os “mercados” ditam as suas regras e todos somos meros números, sempre a ser reduzidos a consumidores acéfalos, é importante nunca esquecer quais as verdadeiras prioridades.

 

24
Abr17

Da riqueza das nações

Um dos factos que mais intriga filósofos e sociólogos é a constatação que os níveis de felicidade das pessoas não são proporcionais com o nível de riqueza da nação onde vivem. Mais, não só não existe uma relação direta como se verifica que em países mais ricos os níveis de felicidade são frequentemente menores que em países bastante mais pobres onde a população enfrenta superiores dificuldades para viver de acordo com os padrões de felicidade ocidentais.

 

Creio que aqui o problema reside no nosso conceito de país rico. O critério de medida é o dinheiro, e haver mais dinheiro não significa que este esteja a ser utilizado para o bem das pessoas. Um exemplo: nas sociedades ocidentais as pessoas têm empregos frequentemente exigentes ecom horários alargados, que provocam ansiedade, que obrigam as pessoas a recorrer a psicólogos e a médicos, que receitam medicamentos anti-depressivos, fabricados por enormes empresas multi-nacionais, medicamentos esses que causam dependência e efeitos psicológicos em que quem os consome. Todo este circuito gera dinheiro, mas infelizmente nenhum dele é aplicado em algo que seja verdadeiramente bom para as pessoas.

 

O Produto Interno Bruto, indicador geralmente utilizado para medir a riqueza das nações, mede sobretudo a circulação do dinheiro, não a sua aplicação para bem da felicidade da sociedade. A afirmação seguinte de Robert Kennedy, em 1968, resume bem porque não é a riqueza das nações que justifica a felicidade dos seus habitantes.

Even if we act to erase material poverty, there is another greater task, it is to confront the poverty of satisfaction - purpose and dignity - that afflicts us all. 

Too much and for too long, we seemed to have surrendered personal excellence and community values in the mere accumulation of material things.  Our Gross National Product, now (...) counts air pollution and cigarette advertising, and ambulances to clear our highways of carnage. It counts special locks for our doors and the jails for the people who break them.  It counts the destruction of the redwood and the loss of our natural wonder in chaotic sprawl. It counts napalm and counts nuclear warheads and armored cars for the police to fight the riots in our cities.  It counts Whitman's rifle and Speck's knife, and the television programs which glorify violence in order to sell toys to our children. 

Yet the gross national product does not allow for the health of our children, the quality of their education or the joy of their play.  It does not include the beauty of our poetry or the strength of our marriages, the intelligence of our public debate or the integrity of our public officials. It measures neither our wit nor our courage, neither our wisdom nor our learning, neither our compassion nor our devotion to our country, it measures everything in short, except that which makes life worthwhile. 

 

Robert Kennedy, University of Kansas, March 18, 1968

 

A Arte da Vida, Zygmunt Bauman (3).png

A arte da vida, Zygmunt Bauman

21
Abr17

O medo e a mentira

E de onde surgiu a mentira? Do medo. Num mundo onde vivia permanentemente acossado por perigos vários, os nossos antepassados eram dominados pelo medo. O medo da fome e da doença. O medo do sofrimento e da morte. O medo do desconhecido e do incompreensível. Mas aconteceu algo que, lentamente, nos permitiu um sentimento verdadeiramente único até ao momento: sentir medo do medo. Foi o primórdio da consciência da nossa existência enquanto ser, a primitiva consciência do “eu” que nos permitiu sentir o medo do medo, sentir a antecipação do que nos poderia acontecer. Foi dessa antecipação, para conseguir alterar o nosso destino animal, que surgiu a mentira. Que existiu o primeiro pensamento sobre algo que não existia no mundo. E assim nasceu a Humanidade.

 

Nova teoria do pecado, Miguel Real (1).jpg

Nova teoria do Pecado, Miguel Real

17
Abr17

A invenção da mentira

Houve um dia, há algumas dezenas de milhares de anos atrás, em que um antepassado nosso foi capaz de mentir pela primeira vez. Um ser que vivia num mundo aterrador, onde o sofrimento e a morte poderia surgir a qualquer momento e de qualquer parte, que, subitamente, teve a capacidade única no reino animal de pensar em algo que não tinha existência real. Esse foi o momento da fundação da Humanidade. Foi esse momento o percursor da nossa evolução para além do mundo animal, que só se tornou possível precisamente por esta nossa singular capacidade de mentir. A mentira é o ardil, é a ficção, é a religião, é o sonho, é o imaginário. A capacidade de mentir, a capacidade pensar e dizer o que não existe, esse é o primeiro passo para se inventar uma nova realidade e construir o nosso próprio destino.

 

11
Abr17

Momentos de felicidade, VI

Um dia com a Primavera em todo o seu esplendor, sol quente temperado com uma aragem refrescante. O dia é dedicado a tarefas leves de jardinagem, acompanhado pelo canto caótico de centenas de pássaros que, miraculosamente, resulta num coro que parece minuciosamente ensaiado. De vez em quando levanto a cabeça da terra e concentro-me no canto de algum pássaro solista, que naquele momento se exibe. Reparo no grande cedro, que se ergue esquio e alto ao lado da casa. Cresceu tanto que já ultrapassa a casa em altura. Há umas semanas dei indicações para o abaterem, por ameaçar cair num dia ventoso, com estragos imprevisíveis. As suas raízes, limitadas pela casa e pelo muro, não o vão conseguir suportar. Agora que estou frente a ele, reparo que nos seus ramos com folhagem densa, folhas miudinhas de um verde forte e aromatizado, devem por esta altura ser abrigo de alguns ninhos. Se fosse hoje aguardaria mais uns meses para o mandar abater, para dar oportunidade a que os seus habitantes saíssem do ninho. É demasiado fácil decidir o destino de outros à distância, isto na guerra como na jardinagem. Agora é demasiado tarde, os homens vão lá amanhã. Tirando isto, foi um dia perfeito. E o futuro parece neste momento que está tão distante.

10
Abr17

Máquinas auto-conscientes

Daniel Dennet é um filósofo que dedica o seu tempo a pensar sobre a consciência e para ele a questão de saber se o outro ser tem, ou não, consciência é uma falsa questão: a consciência não é como um interruptor que ou existe ou não existe, é algo gradual e que pode existir, sendo consciência, mas em graus diferentes. Segundo Dennett o problema do zoombie é uma falsa questão, o que importa saber é que grau de consciência é que existe noutro ser. Temos dificuldade em lidar com o que não tem fronteiras claras, preferimos a simplificação do preto e do branco à infinidade de cinzentos que existem na vida.

 

Do cinema recordo de dois momentos memoráveis sobre a consciência das máquinas: em 2001, odisseia no espaço quando o astronauta vai desligar o computador HAL e este, à medida que vai morrendo, lhe suplica para o não fazer. Em Blade Runner, cuja ação decorre em 2019, quando o caçador de replicantes demonstra a Rachel, uma replicante que pensava ser humana, que ela não é humana, são tocantes as suas lágrimas ao descobrir que as memórias que tem da sua infância são ilusões construídas. No cinema do século XX já estaríamos por esta altura a lidar com a consciência das máquinas.

05
Abr17

O problema do zoombie

Existe um problema filosófico, conhecido como “o problema do zoombie”, que questiona sobre como se pode determinar que outro ser tem consciência e qual a natureza da sua consciência. Como sabemos que não se trata de um zoombie ou, pelo contrário, que é um ser plenamente auto-consciente da sua existência? É um problema complexo, porque cada um de nós vive enclausurado na sua própria mente e os limites que existem para conseguir saber como é verdadeiramente a mente do “outro” são enormes.

 

Com os desenvolvimentos na área da inteligência artificial a questão de sabermos o que é, e como se deteta, a consciência tem uma renovada importância. Saber se uma máquina é apenas um autómato insensível a cumprir instruções de um programa ou se, considerando a sua complexidade e capacidade de aprendizagem, é algo que tem consciência da sua existência, sentimentos e arbítrio pode não ser algo de insignificante. Brevemente seremos confrontados com o problema do zoombie aplicado a um programa informático. Desligar uma máquina pode ser o equivalente a matar uma vida.

04
Abr17

Uma questão de consciência

O que é a consciência? Sabemos que é algo que existe, pois cada um de nós tem a experiência de a sentir. A consciência é a sensação de individualidade, que nos faz sentir que somos um ser distinto dos outros. A consciência é fundamentalmente sabermos que somos um indivíduo, único e irrepetível, que com a nossa morte termina algo que não voltará a ocorrer. Sabemos que, para além do Homem, há muitos animais que têm da sua existência enquanto indivíduo.

 

Perante a questão de como surgiu a vida na Terra, talvez seja mais pertinente saber responder à pergunta de: como surgiu a consciência na Terra. Porque a consciência é a vida que se questiona a ela própria, é algo de fudamentalmente diferente da vida inconsciente. Matar um ser com consciência é algo de intrinsecamente distinto a matar um ser sem consciência. Ninguém hesita em colher uma flor, apesar de se tratar de um ser vivo complexo, porque não se suspeita que a flor tenha consciência da sua existência. A vida consciente é um patamar distinto de vida. E, com os avanços na área a inteligência artificial, até podemos estar muito próximo de existir consciência sem existir vida.

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