Um dos factos que mais intriga filósofos e sociólogos é a constatação que os níveis de felicidade das pessoas não são proporcionais com o nível de riqueza da nação onde vivem. Mais, não só não existe uma relação direta como se verifica que em países mais ricos os níveis de felicidade são frequentemente menores que em países bastante mais pobres onde a população enfrenta superiores dificuldades para viver de acordo com os padrões de felicidade ocidentais.
Creio que aqui o problema reside no nosso conceito de país rico. O critério de medida é o dinheiro, e haver mais dinheiro não significa que este esteja a ser utilizado para o bem das pessoas. Um exemplo: nas sociedades ocidentais as pessoas têm empregos frequentemente exigentes ecom horários alargados, que provocam ansiedade, que obrigam as pessoas a recorrer a psicólogos e a médicos, que receitam medicamentos anti-depressivos, fabricados por enormes empresas multi-nacionais, medicamentos esses que causam dependência e efeitos psicológicos em que quem os consome. Todo este circuito gera dinheiro, mas infelizmente nenhum dele é aplicado em algo que seja verdadeiramente bom para as pessoas.
O Produto Interno Bruto, indicador geralmente utilizado para medir a riqueza das nações, mede sobretudo a circulação do dinheiro, não a sua aplicação para bem da felicidade da sociedade. A afirmação seguinte de Robert Kennedy, em 1968, resume bem porque não é a riqueza das nações que justifica a felicidade dos seus habitantes.
Even if we act to erase material poverty, there is another greater task, it is to confront the poverty of satisfaction - purpose and dignity - that afflicts us all.
Too much and for too long, we seemed to have surrendered personal excellence and community values in the mere accumulation of material things. Our Gross National Product, now (...) counts air pollution and cigarette advertising, and ambulances to clear our highways of carnage. It counts special locks for our doors and the jails for the people who break them. It counts the destruction of the redwood and the loss of our natural wonder in chaotic sprawl. It counts napalm and counts nuclear warheads and armored cars for the police to fight the riots in our cities. It counts Whitman's rifle and Speck's knife, and the television programs which glorify violence in order to sell toys to our children.
Yet the gross national product does not allow for the health of our children, the quality of their education or the joy of their play. It does not include the beauty of our poetry or the strength of our marriages, the intelligence of our public debate or the integrity of our public officials. It measures neither our wit nor our courage, neither our wisdom nor our learning, neither our compassion nor our devotion to our country, it measures everything in short, except that which makes life worthwhile.
Robert Kennedy, University of Kansas, March 18, 1968
A arte da vida, Zygmunt Bauman