Efeito secundário
É inacreditável o quão pouco a ciência conhece sobre o que é a consciência e os sentimentos. Sobre a definição do que são a consciência e os sentimentos, sobre os mecanismos que os geram, sobre a determinação da sua existência. E o mais certo, se há algo de que todos temos a certeza, é da sua existência. E, no entanto, hoje esta é uma matéria que ainda pertence mais à filosofia que à ciência.
Para o filósofo Daniel Dennet a consciência é uma ilusão, é um subproduto que surge do funcionamento da máquina biológica que somos e não passa de uma ilusão nossa. Não existe nada, fisicamente ou de outra forma (aquilo a que alguns chamam de “alma”), que corresponda à consciência. A nossa sensação do “eu”, da consciência do que somos, ou os sentimentos como a tristeza, alegria, raiva ou serenidade não serão mais que um efeito secundário da evolução do cérebro ao longo de milhões de anos no sentido de garantir a sobrevivência. Certamente que o Homem não é a única espécie da Natureza com consciência e sentimentos e que brevemente estes serão perfeitamente possíveis em máquinas não biológicas.
A analogia de Dennet é com a imagem que vemos num ecrã. Quando vemos uma imagem num ecrã podemos estar a apreciar uma imagem extraordinária, cheia de movimento, formas e belas tonalidades, mas na realidade o que existe são apenas minúsculos pontos de luz que vão sendo mostrados de acordo com ordens eletrónicas que para nós são completamente invisíveis. A imagem só existe em nós, na interpretação que o nosso cérebro faz desses pontos de radiação emitida pelo ecrã. Na realidade não há qualquer imagem.
E será por este motivo que, por vezes, é tão difícil encontrar reposta para a questão: o que sentes?