Angústia paternal
Educar uma criança é uma das maiores responsabilidades que alguém pode assumir. E educar é fundamentalmente transmitir valores, impor regras e fornecer condições que permitam à criança um dia saber e poder escolher qual o caminho que que trilhar na sua vida. É fornecer as ferramentas que permitam à criança ser um bom ser humano e que saiba como usufruir da vida. De resto, cada criança tem a sua personalidade e esta não se educa nem se forma, sobre o risco de criarmos um ser esmagado e frustrado que inevitavelmente irá ter consequências no futuro. Pouco mais pode um pai ou mãe fazer. Surpreendentemente para mim, tenho hoje perante a educação dos meus filhos um forte sentimento de impotência, de incapacidade de influenciar.
A mais poderosa ferramenta de transmissão de valores ao alcance de cada pai ou mãe é o exemplo das nossas próprias vidas, enquanto pais, enquanto cidadãos e, principalmente, enquanto seres humanos. Mas, para além do exemplo dos pais, a criança recebe também o exemplo da sociedade. Há uns dias, enquanto falava com a minha filha adolescente sobre um determinado comportamento que considero negativo, a sua resposta foi: “Mas se fosse assim tão mau não o fazia toda a gente”. Como explicar a uma criança que o comportamento da sociedade nem sempre pode ser, em muitos assuntos, um exemplo a seguir?
É certo, conforme diz o proverbio africano, que para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira. No entanto a parentalidade enfrenta hoje uma situação inédita que nunca afetou as gerações anteriores da humanidade: hoje qualquer criança e adolescente tem na mão um smartphone que lhe dá acesso, para bem e para o mal, a um universo de informação, de solicitações e de interações que chegam de todo o mundo. Já não é só a aldeia, ou a sociedade que nos rodeia, que influencia a educação desta geração mais recente, é todo um novo cibermundo, e especial incidência nos conteúdos disponibilizados nas “redes sociais”, que pela sua ubiquidade estão fora de qualquer possibilidade de controlo pelos educadores.
A existência dos smartphones, e a sua utilização por crianças e adolescentes, tem consequências que nem eles nem os seus pais conhecem. Não temos qualquer referencial anterior sobre como agir para potenciar, direcionar ou controlar a sua utilização. Enquanto pai e educador sinto-me a navegar em mares nunca antes cartografados, reagindo de acordo com o que me parece ser o mais correto em cada situação, mas sem qualquer exemplo anterior que me possa servir de alicerce ou argumento sobre se o que estou a fazer é o mais correto. É um admirável mundo novo para o qual ninguém está preparado e para o qual ninguém sabe quais as consequências a curto e a longo prazo nem sobre qual a forma correta, se é que existe, de agir.