Pequeno desencanto
a alegria: um pequeno desencanto da morte
Rui Nunes, Ofício de Vésperas
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a alegria: um pequeno desencanto da morte
Rui Nunes, Ofício de Vésperas
Mesmo quem não beneficia do dom da fé necessita de rituais. Momentos em que demonstramos a nossa humildade perante algo nos é superior, que pode ser um Deus, para uns, ou o Universo, para outros. Independentemente de fé de cada um, todos se unem em redor da insignificância do que somos e da impotência perante o sofrimento. Sobre o nosso destino nada podemos fazer e reconhecê-lo é uma forma singela de renovar a esperança na vida.
O livro “Elogio da Lentidão” de Lamberto Maffei é um alerta para os impactos sobre a nossa espécie das alterações recentes na nossa forma de viver. Na natureza o tempo é circular: o ciclo do dia, as estações do ano ou, talvez mesmo, o tecido do espaço-tempo de que construído o nosso Universo. Desde dos primórdios que os nosso antepassados viveram de acordo com os ciclos da natureza e num mundo de evolução lenta. Com o abandono, historicamente muito recente, do contacto da maioria da humanidade com a natureza, o tempo tornou-se linear para uma parte substancial da nossa espécie. A evolução tecnológica acelerou o tempo linear exponencialmente, numa geração a sociedade mudou mais do que em vários séculos que nos antecederam. Agora exige-se que tudo seja rápido, comunicação imediata à escala planetária e o sucesso tornou-se sinónimo de ação, velocidade e ocupação. Como consequência, tudo se tornou superficial, a pressa deixou-nos a viver na espuma dos acontecimentos.
O nosso cérebro evoluiu ao longo dos tempos num mundo de tempo circular e de mudança lenta. Há algumas decisões do cérebro que necessitam de tempo para se decantarem, há memórias que só registaremos se vivermos de forma lenta, há pensamentos que só teremos se pensarmos com tempo e paciência. O tempo linear acelerado em que vivemos está a afetar as nossas memorias, os nossos pensamentos e os nossos sentimentos. Está alterar o Homem, enquanto espécie.
O que sinto profundamente, é que nos está a impedir de usufruir do tempo, de forma plena e sem ansiedade. Só a lentidão nos permitirá estar em paz de espírito com o tempo que passa.
Elogio da Lentidão, Lamberto Maffei
The Laughing Heart
your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.
Charles Bukowski
Aquele dia estava maravilhoso. Um Sol aconchegante, brisa fresca, céu de azul claro e infinito, luz leve e transparente. Senti-me nesse momento invadido por uma sensação de felicidade e de prazer de viver. Mas foi apenas um instante pois, quase de de imediato, senti um profundo aperto no coração. Sabia que esse momento não iria durar para sempre e que nuvens escuras irão ensombrar o futuro. É “o aperto doloroso por fazer sentir tudo aquilo de que vai sentir falta” a que se refere Cláudio Magris. Naquele momento senti de forma clara e abrupta o peso de perder a vida tal como era naquele instante.
Algo que me surpreendeu enquanto pai de uma adolescente é a reduzida capacidade de influenciar o comportamento de um filho que está ao alcance de um pai ou mãe. À priori estava à espera de ter maior poder de influencia, mas aprendi que ser pai não é um trabalho de construção, é fundamentalmente um acompanhamento. Um filho é, a partir de certa idade, um ser autónomo, com personalidade própria. Não é, em momento algum, um molde de barro que pode ser moldado de acordo com as preferências do seu progenitor. A sua personalidade só a ele lhe pertence, e será inútil e prejudicial qualquer tentativa de interferir nela. O que um pai pode fazer é orientar e aconselhar, mas com reduzido poder de modificação. E sabemos que um adolescente tem mesmo que fazer erros para aprender: a adolescência é o tempo para errar. Os maiores perigos residem em se cometerem os erros e nada se aprender com eles ou em não se cometerem os erros na adolescência e fazê-lo mais tarde, quando se tornam mais perigosos.
Então, o que sobra a um pai preocupado? O que sobra é, acima de tudo, comunicar os nossos valores e o exemplo da nossa vida.
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