Pousio
Este blog sente a falta de algo. Sente a falta do que já teve e não soube dar valor.
Portanto vai ter uns dias de pousio, na esperança que a rua do imaginário (re)encontre a sabedoria de viver.
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Este blog sente a falta de algo. Sente a falta do que já teve e não soube dar valor.
Portanto vai ter uns dias de pousio, na esperança que a rua do imaginário (re)encontre a sabedoria de viver.
A justiça é um conceito que existe exclusivamente no nosso imaginário. No Universo não há justiça ou injustiça, apenas acontecimentos. Sentir revolta perante a injustiça da vida é ridículo. É tudo imaginário. É tudo inútil.
Mas existe.
A insignificância da nossa existência e as provações que o Universo nos apresenta durante este breve período em que somos seres sencientes leva-me a questionar: se é para isto porque temos sentimentos, porque amamos a vida ou os outros, porque é que o Universo nos deu consciência da nossa miséria? Para atingir a paz com o Universo temos que conseguir responder às seguintes interrogações sobre o nosso sentimento: De que nos serve? O que devemos fazer com isso?
A meditação consiste em silenciar a mente para, no silêncio, nos ser possível compreender o que é inefável. É no silêncio que se ouve o murmúrio dos deuses, que se escuta o Universo. E nós somos também o Universo. A oração, seja a qual for o deus a que se reza, é falar com o Universo. Na oração não evitamos cair na armadilha da inefabilidade dos limites da linguagem, orar é limitar e excluir. A verdade, em toda a sua plenitude, emerge do silêncio.
O conceito de inefável, aquilo que não se consegue exprimir por palavras, encerra em si a ideia que existem experiencias, sensações ou sentimentos que são demasiado grandes para as limitações que a linguagem nos impõe. Um pensamento é algo (não sabemos bem o quê) que nasce já formatado pelas regras da linguagem. Inefável é portanto uma palavra paradoxal, que tenta exprimir que há algo que as palavras não conseguem descrever. O pensar e o dizer consituem uma simplificação grosseira da realidade para que encaixe no molde da linguagem. É reduzir a complexidade do Universo à nossa capacidade. E neste sentido, tudo é inefável, poderão é existir graus distintos de perda de qualidade na passagem oe sentimento a pensamento e depois, eventualmente, a palavra.
A arte, nas suas diversas formas, é a melhor fuga à inefabilidade ao nosso alcance e a poesia é uma tentativa de utilizar as palavras para nos aproximar um pouco do que é inefável. E, como não, foi um poeta que soube explicar melhor do que se trata:
Sentir é compreender. Pensar é errar.
[…]
Pensar é limitar. Raciocinar é excluir. Há muito que é bom pensar, porque há muito que é bom limitar e excluir.
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Fernando Pessoa, 1916
O silêncio é habitualmente entendido como a ausência de som ambiente. Ou o silêncio de quem renuncia a falar. Mas o silêncio mais importante é o silêncio da mente. Manter a mente calma, ordenada, no presente, sem a cacofonia caótica de pensamentos, sentimentos ou imagens, é a forma de silêncio mais fundamental.
Sara Maitland, O livro do silêncio
A adolescência é um período difícil, o parto de uma personalidade nunca é indolor. Se consigo sentir empatia pelo adolescente, neste caso a minha filha, por eu já o ter sido, já no papel de pai de um adolescente é uma estreia absoluta para mim. E descubro que a adolescência é difícil, talvez em igual grau, também para o progenitor. É sentir que o que foi até ao momento uma espécie de extensão de nós próprios num outro corpo, está agora a ganhar a sua personalidade, autonomia, a querer deixar de ser definitivamente parte de nós. É, obviamente, um processo saudável e necessário mas doloroso, com erros difíceis de evitar, incompreensões mútuas e confrontos inevitáveis. Um segundo nascimento de onde surgirá, espero, uma personalidade forte, completa e com boas fundações, com o que é preciso para usufruir o melhor possível desta pequena viagem que é a vida. Assim o desejo.
Quando a vida assusta e o que acontece está para além da nossa dimensão, minúsculo no olho da tempestade, uma criança num mundo incompreensível de adultos, perdido e sem ter a quem rezar, sinto-me regressar ao meu quarto de infãncia quando, no escuro, me assustava profundamente com o medo da morte, da ausência, do nada. Agora em adulto os medos são outros, não da morte, mas da própria vida, e do que ela nos reserva.
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