O pequeno livro do filósofo coreano-germano Byung-Chul Han , “A sociedade do cansaço”, atraiu-me me primeiro lugar pelo seu título. O cansaço é o ruído de fundo da nossa sociedade consumista e hiperativa. Neste século XXI estamos numa nova era relativamente ao que nos pode destruir. Durante milénios os perigos para o Homem derivaram de ameaças externas, como as doenças provocadas por bactérias e vírus. Numa lógica militar, viveu-se uma época em que o que é estranho é que é prejudicial, o inimigo é o outro. No século XX a ciência desenvolveu medicamentos capazes de identificar estes agentes externos e destruí-los o que diminuiu bastante a ameaça. Mas a constatação do autor é que na sociedade do século XXI as ameaças vêm do que não consideramos como estranho, o inimigo vem de dentro. Doenças como a hiperatividade, a depressão, o desgaste emocional por excesso de trabalho (burn-out) são provocadas por aquilo que consideramos como nosso, amigo, aquilo que gostamos de fazer e é o nosso estilo de vida. O inimigo já não é o outro, o estranho, o que é diferente. O inimigo vem de dentro de nós. Recorrendo novamente à analogia militar, a guerra mudou, de duas partes organizadas e claramente divididas, enfrentamos o terrorismo onde o ataque vem que quem está entre nós.
Identificado este sintoma, o autor passa a elaborar sobre as causas. E a principal causa é vivermos numa sociedade consumista, do querer sempre mais, em que nos auto-exploramos (já ninguém necessita de chicotes para obrigar a trabalhar, o chicote utilizamo-lo nós próprios em nós mesmos). em que nos impomos ritmos de vida alucinantes. Dividimos a nossa atenção entre uma miríade de focos e em que não temos tempo para aprofundar nada.
Byung-Chul Han repara, e bem, que mantendo este ritmo não vamos conseguir fazer nada de novo, vamos apenas continuar a fazer mais do mesmo, talvez só mais depressa. A verdadeira mudança exige a sabedoria de saber parar, saber dizer que não, de querer fazer diferente. O cansaço não é o nosso inimigo. O cansaço é um sintoma que devemos ter a sabedoria para saber escutar, para dizer que não e mudar o que verdadeiramente nos está a matar neste tempo: nós mesmos.
A sociedade do cansaço, Byung-Chul Han, Relógio D'Água, 2014