Imaginámo-nos velhos, de mãos dadas pela rua, com filhos crescidos e felizes, a usufruir juntos de uma velhice tranquila. Nada disto vai acontecer. Não vais ver os nossos filhos a crescer, eles não terão uma mãe que os apoie e que fique orgulhosa das suas conquistas ao longo da vida, e nós, nós nunca seremos dois velhinhos juntos de mãos dadas pela rua. Eu nunca mais terei o teu sorriso especial, que acreditava que fazias só para mim, nem o teu ombro e aconchego nos nossos serões tranquilos, nem as nossas conversas, nem o teu cheiro único, nem os nossos abraços, nem poderei voltar a adormecer de mãos dadas contigo. Agora nada me parece fazer sentido não sendo partilhado contigo. Tenho saudades de um futuro que não nos foi permitido, o nosso amor não nunca deveria ter terminado desta forma. Mas, como se vê, para o Universo o amor é coisa vã.
O que sinto? Sinto dor, revolta, vontade de esmurrar o Universo que permitiu este sem-sentido, esta crueldade, esta estupidez. É ridículo interromper assim os nossos sonhos de uma velhice juntos. Sinto culpa, por termos desperdiçado um segundo que seja do tempo que tivemos juntos, por não termos partilhado tudo ainda mais intensamente. E culpa por nem tudo ter sido perfeito no tempo que nos foi dado. Mas sinto sobretudo saudade, uma saudade profunda e definitiva. Sei que esta força telúrica dos sentimentos, sobretudo esta saudade tão densa, me irá acompanhar na vida. Mas tenho que pensar que temos dois filhos, seres inocentes que têm de crescer e ser educados, para serem pessoas felizes, de princípios, completas e equilibradas, e que fiquei sem ti nessa responsabilidade esmagadora. E será essa a minha força.
Nunca a palavra ausência teve um significado tão permanente. Agora que partiste, sinto-me como se me tivesse apaixonado novamente por ti, como nos nossos primeiros tempos de namoro, o mesmo desejo permanente de estar contigo, um constante chamar por ti, uma saudade sempre insatisfeita, um perpétuo viver nas memórias do que de tão bom passámos juntos, num turbilhão de emoções por ti. Tudo isto, sem ti. É difícil de acreditar que são as memórias tudo o que resta. Estarás sempre connosco enquanto não te esquecermos, será esse o fraco consolo.
Quando tive a dolorosa tarefa de dizer aos nossos filhos que tinhas partido disse-lhes que continuavas viva dentro de nós, que enquanto formos vivos e te amássemos continuarias viva em nós. Quando por fim lhes disse para irmos os três dormir porque estávamos cansados, o nosso filho A., com a sua alma de poeta, disse: nós os três não, os quatro. E assim será, continuaremos a ser quatro. Seremos nós os quatro para sempre Principessa.
Baci.