Ser, estar
Tudo é vário, temporário, efémero. Nunca somos, sempre estamos
Chico Buarque
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Tudo é vário, temporário, efémero. Nunca somos, sempre estamos
Chico Buarque
Faz hoje 20 anos que estamos juntos. Partilhámos momentos de felicidade total, mas também lutámos contra ventos, chuvas, frio e calor. Dentro do capacete, aos teus comandos, meditei, perspetivei a vida, filosofei, senti-me apaixonado, sorri e, algumas vezes, também chorei. Fiz viagens com o meu amor. Ganhei incontáveis horas de vida no inferno do trânsito e estacionamento da cidade, uma verdadeira máquina de fazer tempo. Atrevo-me a afirmar, por inverosímil que pareça, que tal como nos casais antigos, o tempo deu-nos personalidades semelhantes. O homem adaptou-se à máquina e a máquina ao homem. De uma coisa tenho a certeza: sem a mota eu não seria a mesma pessoa.
Vivemos numa era onde tudo acontece depressa. Construímos máquinas para fazer mais depressa, que aceleram o nosso tempo, mas esquecemos que nós, seres humanos, surgimos e evoluímos de forma extremamente lenta. Nós somos seres de um tempo em que tudo era extremamente mais lento. E hoje, na pressão de acompanhar a velocidade das máquinas que construímos, estamos a deixar que se perca a nossa verdadeira essência.
Somos permanentemente empurrados para a frente, num desequilíbrio constante em direção ao futuro, esquecendo de que o único que nós temos é somente o momento. Em cada instante pensamos no que vamos fazer a seguir, tentamos fazer várias coisas ao mesmo tempo, geralmente nenhuma bem, fazemos sempre o que é urgente e nunca o que é importante e, muitas vezes, esquecemo-nos de pensar antes de fazer.
O tempo passa por nós depressa, demasiado depressa, estamos sempre a tentar chegar a um destino, esquecendo que a vida não é um destino, é uma viagem. Já devíamos há muito saber que, muito mais importante que a velocidade, é a direção.
A Esporão, uma empresa alentejana de produção de vinho (em que o tempo é ingrediente fundamental da sua produção) fez uma campanha publicitária para promoção do “slow living”. Deixo aqui o texto associado a esta campanha.
MANIFESTO
Vivemos no tempo da pressa. Crescemos depressa. Trabalhamos depressa.
Comemos, bebemos, dormimos depressa.
Esquecemos depressa o que vemos depressa. E quando lemos, lemos depressa.
Amamos depressa. Fartamos depressa. E quando não enviamos emojis, escrevemos dprs.
Depressa não é para a frente. É só… urgente.
Depressa é à pressa.
Nós somos da terra do devagar.
Devagar tem outro sabor. Devagar é melhor.
Devagar tem respeito.
Devagar é um talento, e vai longe.
Sim, vivemos no tempo da pressa.
Mas se tudo o que fizermos for para ontem, o que acontece a hoje e ao amanhã?
Há várias maneiras de andar para a frente. Esta é a nossa.
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