A sociedade dos países desenvolvidos vive na bolha da superioridade que a tecnologia lhe concede. Temos estações espaciais, manipulamos a genética de seres vivos, viajamos de um lado ao outro do planeta em poucas horas, temos no bolso acesso a conhecimento infinito, fabricamos máquinas absolutamente magnificas. Que mal é que a natureza ainda nos pode provocar?
Esta geração nasceu e vive com esta sensação de libertação das leis da natureza, com o orgulho da criatura que suplantou o criador, com a arrogância que quem dominou o medo e com a insolência de quem considera que tudo no mundo existe somente para seu usufruto.
Comportamo-nos como um imperador confiante na força dos seus exércitos e, no deslumbramento do nosso poder, desprezamos as ameaças. Os efeitos das alterações climáticas nunca foram minimamente levados a sério. Os alertas do desastre iminente não valeram o esforço de alterar o nosso estilo de vida, por pouco que fosse, pois acreditamos que, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, a nossa superioridade perante a natureza vai resolver problema.
Com a pandemia esta geração encontra algo de inédito: a natureza ameaça de forma grave o nosso estilo de vida e a ciência e tecnologia, por enquanto, de pouco nos podem valer. Esta situação fez surgir um medo, que é não apenas desta pandemia, mas um medo ancestral, mais profundo e mais denso. Para esta pandemia irá certamente surgir um medicamento ou uma vacina. Para os efeitos das alterações climáticas sobre a nossa vida não vai existir medicamento nem vacina. E este medo é o medo de voltar a ter medo, é o medo de descobrir que afinal há problemas que não conseguimos resolver, é o medo de viver novamente subjugado e de ter que renunciar à soberba. Afinal, não somos imunes ao que acontece na natureza. Afinal, a natureza consegue alterar de maneira radical os nossos hábitos mais básicos. Afinal, o imperador talvez tenha pés de barro.