Invenção da velhice
Sabemos hoje que envelhecimento não é algo de biologicamente inevitável, antes pelo contrário, está programado no nosso ADN para garantir que, na idade em que geralmente está assegurada a reprodução, o corpo se deixe de regenerar e comece lentamente a decair até à morte inevitável por envelhecimento. Os milionários de Silicon Valley investem hoje milhões em empresas de investigação em biotecnologia e engenharia genética com o objetivo de encontrar a cura para velhice. Aquela gente não pretende envelhecer.
Mas qual o de a Natureza ter inventado o envelhecimento? Como bem infere Afonso Cruz num texto do seu livro Jalan Jalan, sem morte não seria possível a evolução das espécies e a evolução das espécies não seria possível sem sexo. Sem velhice todos os que, pelos acasos das combinações e mutações genéticas, sendo mais ou menos aptos, continuariam vivos e a reproduzir-se. E foi com a reprodução sexuada, em que cada ser resulta de um combinação de genes de dois outros seres é que se tornou necessário garantir a velhice e a morte programada para que a transmissão dos genes mais felizes para a geração seguinte se traduza na evolução gradual da espécie. Se todos os seres fossem geneticamente iguais, a velhice não teria qualquer utilidade biológica. Foi portanto a invenção do sexo como forma mais eficaz de garantir a sobrevivência da espécie que implicou também a invenção da velhice. A velhice é portanto a Natureza a sacrificar o individuo pela evolução da espécie.
Jalan Jalan, Afonso Cruz