Morte e esquecimento
Rosa Montero em a “A ridícula ideia de não voltar a ver-te” inspira-se num curto diário que Maria Curie escreveu durante um ano após a morte, inesperada, do seu marido Pierre. A autora, também ela tendo vivenciado recentemente a morte do seu companheiro, faz uma reflexão sobre o luto e a morte, entre outros assuntos vários inspirados na vida extraordinária da única dupla vencedora do prémio Nobel, numa época em que a função da mulher na sociedade estava sujeito a extremas limitações.
Uma das reflexões de Rosa Montero está relacionada com o medo do esquecimento de quem sobrevive à morte de um ente amado. A nossa memória é selectiva, falível e criativa. Como podemos ter a certeza de conseguir recordar a pessoa que nunca, mesmo nunca, mais vamos ver? Como saber se não vamos esquecer ou deturpar na nossa memória auqeles pormenores pormenores que nem as fotografias registam, como a sua voz, o seu sorriso, a profundidade da cor dos seus olhos, os seus estados de espírito e as pequenas manias que fazem a personalidade do que cada um de nós é? E desta forma Montero resume de forma sucinta as que são talvez as duas faces mais terríveis do horror do luto: o nunca mais, para todo o sempre, ver-se uma pessoa e o medo da alteração das nossas memórias sobre essa pessoa.
É certo que uma pessoa só morre verdadeiramente para nós quando é esquecida, mas esse é um fraco consolo. Imediatamente após a morte o nosso cérebro vai iniciar um processo de seleção e alteração das memórias que em nós vão criar o demónio do medo de nunca mais nos ser possível saber quem era verdadeiramente a pessoa que perdemos.
A ridícula ideia de não voltar a ver-te, Rosa Montero