O regresso ao normal
As ruas da cidade estão vazias. Para entrar no supermercado é preciso esperar numa fila esticada de seres humanos, a maioria assustados, outros espantados. Mas o que mais impressiona é o silêncio das pessoas. Duvido sobre qual pandemia mais perigosa: se a provocada por um virus se a provocada por um medo. E que medo é este? De que profundidades subiu agora este medo à tona?
Será medo da doença ou da morte? A vida sempre foi muito frágil, é estranho que seja este o medo. Será medo de perder para sempre um estilo de vida? Ou será que esta pandemia foi tão somente a ignição que revelou um cansaço acumulado, um mal-estar latente de uma vida vivida em permanente desiquilibrio?
Espera-se pelo regresso ao normal, mas creio que esse será o maior erro: o nosso anterior normal foi, também ele, parte do problema.