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As tecnologias de informação democratizaram o acesso a ferramentas de comunicação massiva. Hoje todos nós podemos potencialmente comunicar com, e tentar influenciar, milhões de outros seres humanos. Isto é algo de extraordinário, um superpoder que ainda há pouco tempo não existia ou que, mais recentemente, estava acessível apenas a alguns meios de comunicação. Ainda estamos portanto na infância da utilização destas ferramentas, estamos a aprender a utilizá-las e comportamo-nos um pouco como crianças a explorar um novo brinquedo sem qualquer supervisão parental.
O ruído é por isso gigantesco e com consequências nefastas. A verdade é um conceito que hoje está a tornar-se fluído e existe a tendência para se criarem ondas de “verdade,” ou muitas versões da “verdade”, que tudo submergem. Porque, curiosamente, a democratização do acesso à comunicação tem a consequência inesperada o facto de diminuir o contraditório fundamentado ao colocar em igualdade todas as opiniões, esvaziando de significado a palavra verdade.
Com estas ferramentas que amplificam à escala mundial a opinião de cada um se assiste a um perigoso recuo da fundamentação da opinião baseada no conhecimento. Hoje todos acham que podem opinar sobre qualquer assunto, mesmo que não sejam especialistas ou que tenham dedicado apenas alguns minutos a analisar o tema. E a sua opinião tem exatamente a mesma oportunidade de atenção que a opinião de um especialista. E a opinião da maioria, não a opinião dos que conhecem do assunto, é a que submerge todas as outras. A primazia total da opinião da maioria sobre a de especialistas faz tanto sentido como se no início de cada voo o piloto fosse selecionado entre os passageiros por votação.
É preciso nunca abdicar, em nenhum momento, do único fundamento para o conhecimento: a ciência. Só que a ciência exige trabalho, exige tempo e, acima de tudo, exige que coloquemos as nossas opiniões ao seu dispor. A ciência exige a humildade de deixar as nossas convicções serem permanentemente questionadas e de admitir que a verdade pode ser diferente do que é a nossa convicção. Ao invés, cada vez, mais vivemos tempos em que a opinião se sobrepõe ao conhecimento.