A aldeia
Há quinze anos, com o nascimento da minha primeira filha, nasceu também um pai. Aprendi a ser pai com a minha filha como ela aprendeu a ser pessoa comigo, foi um crescimento mútuo. Mas sei bem que um pai ou uma mãe não é o suficiente para a completude da educação de um filho. O provérbio africano “Para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira” reflete o conceito de que é a sociedade que serve os fundamentos para a educação de uma criança.
A atual geração de adolescentes e crianças nasceu num mundo novo em que a tecnologia permite que toda a informação esteja literalmente na palma das suas mãos. A “aldeia” mutou para algo de fluido e universal onde o sucesso se confunde perigosamente com um reconhecimento instantâneo e efémero pelos outros. Neste hiper acesso todos têm voz e opinião e o conhecimento do especialista é submergido pela gritaria da multidão. Nasceram num mundo em que o nosso estilo de vida está a destruir o planeta e em que a felicidade se confunde com consumo.
Hoje o maior desafio enquanto pai é transmitir aos meus filhos a importância de pensar, pensar pela própria cabeça, não ir atrás da opinião do rebanho e não fazer depender a nossa confiança do reconhecimento efémero pelos outros. Para esta geração que nasceu imersa num mundo conectado muito diferente do da minha infância, a dúvida que tenho é se a nossa “aldeia” terá o que é mesmo necessário para cumprir a sua função na educação de uma criança.