Depois da viagem chega o momento de a reviver, de construir memórias, de ressentir emoções. Foi este o objectivo destes pequenos textos sobre esta viagem, não a podia perder nos confins misteriosos da memória. É preciso cuidar das memórias como o jardineiro cuida do seu jardim.
Quando se inica a viagem? O início da viagem é difuso: há a ideia que nasce, há os planos que se desenham, há a viagem imaginada. Tudo isto também é viagem. Olhar para o mapa e escolher percursos, imaginar estradas e paisagens, fazer escolhas e pesquisar, ler nomes num mapa e desejar lá ir apenas por um instinto íntimo e nada mais. Várias vezes o plano da viagem foi alterado, retocado e corrigido até que possuímos a versão final, a poucos dias de iniciar a viagem. E na viagem o plano foi somente esboço, várias vezes foi ignorado, várias vezes nos perdemos, várias vezes seguimos estradas e caminhos que não foram planeados. E ainda bem.
Tal como o arquétipo excede a realidade, quase sempre o plano da viagem é melhor que a viagem. Não foi o caso. A viagem excedeu a expectativa, o concreto superou a ideia. Viajámos por um mundo maravilhoso, um mundo feito de beleza, segredos, silêncios e feitiços. Foi assim também porque, como escreveu Pessoa, “quem faz a viagem é o viajante”, não são os planos, os mapas, o GPS, as estradas ou as paisagens. E neste caso quem fez a viagem foram dois corações eternamente apaixonados.
Das limitações do GPS
Há lugares
que não aparecem
nos mapas –
só o coração
os pode habitar
José Carlos Barros, A educação das crianças